domingo, 9 de novembro de 2008

Em vários papeis

Clarice Lispector foi romancista, contista, cronista, colunista, entrevistadora. Além de escritora, jornalista. Além de jornalista, mulher. Tudo ao mesmo tempo, aqui não se trava um debate sobre as fases de Clarice, trata de suas várias partes, facetas tão distintas mas que se unificam na pessoa, personagem de Clarice Lispector.

Utilizando os pseudônimos Tereza Quadros, Helen Palmer e como ghost-writer de Ilka Soares, camuflada, Clarice escreveu colunas femininas nos periódicos Comício, Correio da Manhã e Diário da Noite, respectivamente, nos anos 50 e 60. Uma face que foi pouco conhecida de seus leitores, mas que hoje já rendeu estudos e publicação em “Clarice Lispector jornalista – páginas femininas e outras páginas” de Aparecida Maria Nunes.

A produção de Clarice pelo viés do jornalismo foi ampla e diversificada. Em suas colunas a mulher é personagem principal, podendo assim traçarmos um paralelo, um comparativo com os personagens de seus romances como a Lori em “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres”. Tendo como temática o não menos amplo universo da mulher, entre conselhos e receitas, Clarice monta um conjunto de colunas que por vezes se mesclam com sua produção literária, utiliza e, além disso, ultrapassa questões frívolas tão comuns em colunas femininas, trazendo discussões que vão além de questões do lar. Qual é o papel da mulher afinal? Como ela se deixa mostrar?

Entre receitas para manter a juventude, como se manter bonita, atraente para o marido, Clarice lança mão de citações, de textos de escritoras que discutem de outro modo, até mesmo historicamente sobre como se dá, como se percebe a mulher na sociedade, um texto especifico que trata disso está em uma coluna entitulada “A irmã de Shakespeare” publicada no Comício em 22 de maio de 1952, onde Clarice recontou um texto de Virginia Woolf. Entre ironias e afagos, conselhos e alfinetadas, Clarice mexe com a cabeça das mulheres, trava discussões, mantendo seu papel de conselheira, de quem sabe o que fala e deve ser ouvida, ou melhor, lida.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

íntimo

devemos observar as "entrelinhas", as mensagens quase subliminares que podem estar presentes em um mover de mãos. a intenção é de conhecer o íntimo (no que for possível a essa altura claro), a obra e sentir as intuições, as entranhas, a vida e morte entre escritos. somos admiradores por intuição. leitores por busca. seguindo uma paixão leve e forte de conhecer.

mítica

como uma criatura, ser (não sei que palavra usar) mítica. tanto que não deixo de me sentir frágil ao tentar esboçar uma idéia ou uma miséra impressão de quem foi. provavelmente não se compreende qualquer obra sem seu autor. e em seu olhar, seu jeito de falar, até mesmo seu modo de segurar o cigarro percebo mesmo em seus traços uma poesia explícita. não só escrevia livros, crônicas, contos, colunas... como parecia se escrever. talvez por isso permanecesse viva. ela é (é. em seu modo imortal...) de uma estranheza, de uma sensação, de uma espécie de mundo que gritava de dentro enquanto reproduzia uma voz delicada e aparentemente (somente) frágil.
quantas pessoas podem falar? quem a conheceu profundamente?
[afinal, será que qualquer pessoa pode conhecer profundamente alguém?]
será que mesmo a literatura pode se compreender? será que alguém, mesmo o próprio autor, consegue realmente, suficientemente explicar seu processo criativo?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

impressões de um alguém


talvez tenha suas fases. conhecimento. autoconhecimento. idéias. intuições. leitores. em cada história (não importa qual seja) uma parte de si. um olhar daquele mais enigmático e misterioso que seja. ela é conhecida. ela é conhecida? de um tipo de timidez. de uma loucura visceral. a intuição. a intuitiva. a força da delicadeza.

"como voar suspensa por balões".*


*acordar-se (nossa conversa) - diário da noite - 16 de setembro de 1960